Os impressos voltaram pra valer

Os impressos voltaram,
e agora é pra valer

Por Kellyn Dantas

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22/07/2025 às 17h29

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Em um cenário preenchido por telas, algoritmos e aceleração, a volta dos impressos e das experiências táteis pode parecer um movimento contrário à maré. Mas não é um retrocesso. É uma resposta.

O que estamos vendo não é só uma saudade estética. É uma busca por conexão real, memória e presença. Por isso, o papel, o tato e os encontros presenciais voltam a ocupar espaço no cotidiano, especialmente entre os públicos mais jovens.


Com a saturação do digital, um suporte antigo vira desejo

Entre os perfis de consumidores mapeados pela empresa de pesquisa WGSN, os Conventionals expressam com clareza essa mudança de comportamento. São consumidores que valorizam o físico, o nostálgico e o coletivo. Querem viver experiências fora da tela. E isso tem se traduzido em ações concretas.

Um dos exemplos mais icônicos é o relançamento da revista Capricho, agora em versão impressa, após anos restrita ao digital. Com o papel se tornando artefato afetivo, memória viva e símbolo de um tempo mais tangível, o retorno da publicação causou comoção e esgotou rapidamente.

Imagem: Divulgação

Zines, cartazes, convites impressos e revistas independentes também têm ganhado espaço em feiras, eventos e comunidades criativas. São materiais que não só comunicam, mas envolvem. A escolha do papel, da textura e da diagramação faz parte da experiência.


Eventos presenciais e a força do coletivo

O boom dos eventos físicos segue a mesma lógica. Clubes do livro, encontros ao ar livre, ativações sensoriais e imersões presenciais crescem em adesão e relevância. A ideia de estar junto, compartilhar momentos reais e guardar lembranças concretas se fortalece.

Um grande exemplo do sucesso em se explorar essa nova onda é a Bienal do Livro de 2025, que ocorreu em junho, no Rio de Janeiro. O evento registrou números impressionantes: 740 mil visitantes entre a pré-estreia e o encerramento, mais de 6,8 milhões de exemplares vendidos e um impacto estimado de R$ 535 milhões para a cidade. Foi a maior edição desde sua criação, em 1983.

Imagem: Divulgação

Nesses contextos, o impresso não é acessório. Ele é parte da vivência. Um convite entregue em mãos, um pôster colado na parede, uma revista recebida no final de um evento. O físico se transforma em símbolo daquilo que foi vivido e, por isso, permanece.


O offline como protagonista

Nada disso significa abandonar o digital. Mas exige que as marcas entendam que o físico é agora, e sempre foi, muito estratégico. Não como mídia de apoio, mas como ponto de contato emocional, como ferramenta de encantamento, como presença que se guarda.

Quando tudo é efêmero, o que se imprime permanece.

E quando a memória vira diferencial, o offline deixa de ser apoio e passa a ocupar o centro da experiência.

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